Por Cláudio Tsuyoshi Suenaga
Aladino Félix é um dos nomes mais polêmicos da
Ufologia Brasileira. Félix escreveu livros como Contato com os Discos Voadores,
um clássico da literatura ufológica mundial, Mensagens aos Judeus, o Hebreu e A
Antiguidade dos Discos Voadores, que se antecipava a Erich von Daniken. E para
completar, o autor líder messiânico e acusado de terrorismo, preso pelo
Departamento de Ordem Política e Social(DOPS) e demais órgãos de repressão
política do regime militar(1964-1985)- Aladino Félix foi torturado conseguiu
escapar e acabou recapturado. Depois de cumprir pena, desapareceu. A meteórica
trajetória de Félix é em si mesma um mistério, ele foi responsável por cerca da
metade de todos os principais atentados políticos ocorridos em São Paulo em
1968. Tais atos acabaram errônea e convenientemente atribuídos a esquerda, e
contribuíram de sobremaneira para disseminar o clima de agitação e desordem que
abriria o leque de justificativas para o fechamento total do regime militar, por
meio da decretação do Ato Institucional numero 5 – o famigerado AI-5 em dezembro
daquele ano. Ligado a altos escalões do governo, Félix insurgiu-se como o
primeiro a alertar que um “golpe dentro do golpe” estava em vias de ser
implantado, e a denunciar, junto com seus adeptos, as torturas a que foram
submetidos nas dependências do Departamento Estadual de Investigações
Criminais(DEIC).
O polêmico Aladino
Félix, que também assinava livros como Dino Kraspedon, Sábado Dinotos e Dunatos Menorá |
Durante
cinco anos, desde novembro de 1952, Aladino Félix teria conservado em segredo o
contato que alegava ter mantido com os tripulantes de um disco voador na Estrada
de Angatuba, interior de São Paul, bem como a visita que recebera do comandante
deste. Os visitantes que dizia ter encontrado eram altos, tinham suas cabeças
raspadas e usavam macacões colantes. Pelo que lhe fora explicado pelo comandante
da nave – disse proceder de dois satélites de Júpiter, Io e Ganímedes – as naves
deviam sua alta velocidade ao vácuo que formavam com o bombardeio de raios
catódicos em toda a parte externa, formando um túnel. Tendo o vácuo sempre a sua
frente, o disco podia movimentar-se sem qualquer atrito, em qualquer velocidade
e em todas as direções.
O
comandante ainda teria postulado que o Sol e os planetas se sustentam no espaço
de forma contrária a que a ciência terrena afirma. O Sol não atrairia os
planetas, mas provocaria uma repulsão. “ Se até então a ciência não encontrara a
solução para o problema dos três corpos, brevemente haveria maior dificuldade
com a inclusão de um outro sol em nosso sistema”, dizia Félix, aliás, segundo
ele, essa seria uma das razões que atrairia naves extraterrestres aqui, além de
nos prevenir contra os perigos a que estávamos expostos com o advento da era
atômica. O comandante dizia que todos os planetas teriam suas órbitas
modificadas. A Terra por exemplo, sob a pressão de dois Sóis, iria ocupar a zona
onde hoje se encontra o cinturão de asteroides, entre Marte e
Júpiter.
Contato
com os Discos Voadores aborda assuntos como astronavegação e a vida em outros
mundos. Lança novos conceitos sobre Deus, matéria e energia. Alerta-nos sobre o
perigo atômico e discute os erros cometidos por nossas ciências. Os visitantes
espaciais se identificaram como habitantes de dois satélites jupiterianos,
chamados Io e Ganimedes. Quanto à aparência física, Dino descreve o comandante
como um homem alto, corpo esguio de simetria perfeita e com olhos grandes e
azuis.
Em seu
livro, Dino afirma, entre outras coisas, que há um planeta em nosso sistema
solar, conhecido como SS433, que, segundo os extraterrestres, está vindo de
encontro à Terra. “Quando chegar à altura do Sol, irá se incandescer”, garantiu.
Como os corpos se repelem pela luz, todos os planetas serão afastados de suas
órbitas. “Com isso, nosso ano passará a ter 1000 dias”, finalizou.
Foi após esses encontros que o senhor escreveu o
livro?
DINO –
Sim, mas só fui escrevê-lo em 1955. Nesta época, o comandante veio novamente à
minha casa. Só que a razão da visita era trazer uma profecia que deveria ser
incluída no livro. Esta profecia previa um trágico fim para a humanidade: “De
todo será esvaziada a Terra e de todo será saqueada, porque o Senhor anunciou
esta palavra: a maldição consome a Terra e os que habitam nela serão desolados.
Por isso, serão queimados seus moradores e poucos homens restarão. Os
fundamentos da Terra tremem. De todo será quebrantada a Terra, de todo se
romperá a Terra e de todo se moverá a Terra. De todo vacilará a Terra como o
ébrio e será movida e removida como uma choça da noite”.
Para o senhor, o que quer dizer esta
profecia?
DINO –
Bem, para eu entender a profecia, o comandante precisou fazer um desenho no meu
caderno (que está reproduzido na página 47 do livro). Esse desenho mostra dois
sóis... Ele me explicou que – ao contrário do que explica a nossa física
clássica – os corpos se repelem pela luz. Explica também que todos os corpos têm
luz, mas nós não temos capacidade de perceber isso. A luz é uma força que repele
outros corpos. Assim, os astros se movem e não se chocam uns com os outros. Eles
se repelem mutuamente. Esse é um fato que os astrônomos não dão nenhum valor...
Mas voltando à profecia, ela diz respeito a um novo corpo celeste que iria
invadir o nosso sistema e comprometer a vida na Terra.
De que forma esse astro pode nos
prejudicar?
DINO – O
nosso sol repele naturalmente a Terra. Segundo as palavras do comandante, virá
um outro sol, que também a repelirá. Essa repelência afastará todos os corpos do
Sistema Solar, de forma que o planeta Plutão será jogado fora do sistema. A
Terra também será afastada, indo até a região espacial dos planetoides, perto de
Marte. Ao chegar nesse ponto, começará a fazer o movimento de translação em
torno dos dois sóis existentes. Porém – como disse o comandante – para chegar
até a região dos planetoides, nosso planeta levará aproximadamente seis ou sete
dias.
Nesse
período ela tremerá, causando um grande cataclismo. Este sol será detectado
pelos cientistas ainda antes do fim do século (lembrar que a entrevista foi
feita em 1996). Desta forma, como diz a profecia, a Terra tremerá como um
ébrio... infelizmente, com isso, dois terços da humanidade serão
extintos.
E foi por isso que o senhor escreveu o
livro?
DINO –
Sim, por todos os motivos. Foi ele quem me pediu para escrever. Apenas cumpri
uma missão... e foi o único livro que escrevi na minha vida. Várias pessoas
leram a obra e gostaram muito. Em 1957, alguém levou o livro para a Rússia e, em
março do mesmo ano, a Academia de Ciências da União Soviética enviou uma carta
para a editora no Brasil. Então, como naquela época havia muita repressão, o
Departamento de Ordem Política e Social do governo controlava tudo,
principalmente o que vinha da Rússia [risadas]. O pessoal tinha horror a
comunistas. O departamento pegou a carta dos russos, abriu-a e foi até a editora
tirar satisfações.
Alguns fatos sobre
ele
O trabalho
de Cláudio Suenaga, 1968, A História Que Tentaram Apagar traz revelações
surpreendentes sobre a figura de Aladino Félix e levanta a suspeita de que a sua
participação na história daquele conturbado período foi subestimada pelo descaso
ou preconceito de nossos historiadores. As informações a seu respeito se resumem
a rotulá-lo de louco ou lhe atribuir um papel secundário.
Há muitas
evidências de que Aladino tinha contatos com altos escalões do Regime Militar e
é provável que acreditasse servir-se deles no seu projeto de tomada do poder.
Pode ter sido um inocente útil que acreditava no apoio de alguns militares aos
seus planos, ou também um bode expiatório utilizado pob eles para deflagrar a
caça às bruxas. Para o pessoal da esquerda, ele não passava de um simples
informante ou agente provocador. O Dr. Walter Bühler declarou que Aladino havia
sido treinado pela CIA, em Chicago, de onde, “por uma razão qualquer, foi
desligado”. As evidências de suas ligações com autoridades militares e as
suspeitas de que poderia ter agido cumprindo ordem deles nunca foram
investigadas a fundo. Isto é compreensível partindo de quem estava ligado ao
regime militar; só não consigo entender o desinteresse dos historiadores em
geral, que poderiam talvez levantar fatos inéditos de nossa História. As
autoridades sempre negaram qualquer ligação com Aladino e apenas diziam que
recebiam dele informações e denúncias, de caráter grave, sobre a situação do
país. Mas, na época, falava-se que o terrorismo de grupos paramilitares de
direita não começara nos anos 60, mas décadas atrás, nos anos 40 e 50. Aladino
também fez esta denúncia, mas tido na conta de “louco”, “místico” e
“visionário”, ninguém acreditou que por trás dele pudesse ocultar-se uma
“gigantesca rede conspiratória que ao longo dos anos assumiu o controle de todos
os aspectos da vida da nação”.
Diz
Cláudio, em sua tese: “Os problemas com a Igreja explicam porque Aladino não foi
nem mesmo citado no livro “Brasil: nunca mais”, projeto conduzido e coordenado
pelos arcebispos da Arquidiocese de São Paulo. A omissão é tanto mais grave se
levarmos em conta que Aladino e seus seguidores foram praticamente os primeiros
“terroristas” torturados pelo aparato repressivo que se solidificava. Apenas à
página 116 deste livro, numa tabela mostrando a atuação de diversos grupos de
esquerda, vemos que uma “organização sem identificação” atuou em 1968. Muito
pouco para um movimento responsável por quase metade dos atentados cometidos
naquele ano em São Paulo.
Provas de que Aladino Félix era Dino Kraspedon
O bancário aposentado
Oswaldo Pedrosa, já falecido, assumiu a identidade de Dino Kraspedon, inventada por Aladino Félix |
Ao assumir
a identidade de Dino Kraspedon, o bancário aposentado Oswaldo Pedrosa
necessariamente teria também de alterar sua personalidade em todos os aspectos
que esta comportava. Mas não foi o que fez, entretanto [Veja UFO 106]. No
intuito de restabelecer a verdade histórica sobre esse curioso personagem da
Ufologia Brasileira, apresentamos provas incontestáveis de que Pedrosa não é nem
nunca foi o autor de Contato com os Discos Voadores, como alardeou em congressos
de Ufologia pelo Brasil afora, que freqüentou a partir dos anos 90, já
octogenário. Todos aqueles que se acostumaram à falsa certeza de que o bancário
era de fato Kraspedon talvez estivessem convencidos pelo seu singelo discurso ou
influenciados pela ação de seus arautos, também iludidos pelo imponderado
consenso que se formou a respeito.
Usurpação do nome — Um dos argumentos mais capciosos e recorrentes dos ufólogos que
defendem o bancário é o de que Dino Kraspedon e Sábado Dinotos seriam
personagens distintos. Para eles, Dino seria o bancário e contatado, e Sábado
seria Aladino Félix, o líder messiânico e terrorista. Nada mais falso. Como se
já não bastassem os testemunhos de todos os que conheceram Félix, incluindo sua
família, há garantias documentais de que o autor de Contato com os Discos
Voadores era de fato Aladino Félix, apenas e tão somente ele. Uma prova é a
edição de 24 de agosto de 1968 do jornal Última Hora, de São Paulo [Número
5.090, ano XVII], que traz nas páginas 08 e 09 uma reportagem cujo título
principal é Os Caminhos do Terror, e na página 10, um perfil do contatado e
terrorista, sob o título O Incrível Aladino ou Sábado Dinotos ou Dino Casperton.
Embora o jornal tenha errado na grafia, fica patente que na época a própria
imprensa já reconhecia Dino e Sábado como sendo a mesma pessoa, ou seja, Aladino
Félix.
A
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, instituição que armazena os registros de
todos os escritores nacionais, enviou a este autor, em 24 de novembro de 1995,
um documento assinado por Anna Naldi, chefe da Divisão de Informação Documental,
e referendado pela pesquisadora Cássia Krebs, confirmando que Dino Kraspedon e
Sábado Dinotos eram a mesma pessoa, ou seja, Aladino Félix. Em sua lista,
constam como sendo de Félix as obras Bíblia Sagrada [Pentateuco], Contato com os
Discos Voadores, O Hebreu: O Libertador de Israel, Mensagem aos Judeus: O
Nascimento do Messias e A Órbita da Terra e a Gravitação.
Poucos
meses antes de falecer, em 13 junho de 1996, este autor manteve intensa
correspondência com o médico e pioneiro da Ufologia Brasileira Walter Karl
Bühler, fundador e presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Discos
Voadores (SBEDV), que estabelecera vários encontros com Félix na década de 50.
Bühler citou Félix inúmeras vezes nos boletins da SBEDV, sempre fazendo questão
de relacionar o pseudônimo Dino Kraspedon ao verdadeiro nome do mencionado,
Aladino Félix. Como que antevendo a usurpação do nome, em seu Livro Branco dos
Discos Voadores [Editora Vozes, 1985], Bühler ainda fez questão de declinar em
várias passagens o verdadeiro nome de Kraspedon, isto é, Félix.
Por fim,
durante uma visita que fiz ao veterano ufólogo carioca Fernando Cleto Nunes
Pereira [Veja seção Diálogo Aberto de 132], em companhia do ufólogo espanhol e
também consultor da Revista UFO Pablo Villarrubia Mauso, em 1996, aproveitei
para mostrar-lhe a edição de 06 de março de 1968 do Jornal da Tarde com a
matéria O Golpe Fantástico, que traz uma foto de Félix, que já fora hóspede em
sua residência. Ao vê-la, Cleto logo reconheceu o velho colega. Acima da foto, o
pioneiro escreveu: “Acredito que este é o Dino Kraspedon que conheci na década
de 50”. O ufólogo decano Fernando Grossmann confirmou igualmente que Dino
Kraspedon era de fato Aladino Félix.
Explicação necessária — Mas os leitores certamente devem estar se
perguntando por que só agora, passados mais de 10 anos, é que resolvi publicar
estes fatos. Em consideração aos que prezam pelo silogismo, explico. Antes, cabe
dizer que este texto é apenas uma breve síntese de um extenso trabalho que
compôs pouco mais da metade de minha tese de mestrado, intitulada A Dialética do
Real e do Imaginário: Uma Proposta de Interpretação do Fenômeno OVNI,
desenvolvida entre os anos de 1994 e 1998. O trabalho contou com a orientação do
antropólogo Benedito Miguel Angelo Perrini Gil, foi apresentado junto ao
Departamento de História da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade
Estadual Paulista (Unesp), campus de Assis, e defendido em 22 de março de 1999.
Ou seja, no âmbito acadêmico, a verdade sobre Dino Kraspedon é fartamente
conhecida e está acessível a qualquer pessoa que se predisponha a consultar o
banco de teses daquela universidade.
Mas se até
agora eu vinha adotando uma postura de resignação e protelando a publicação
destes dados, isso se deveu a uma série de fatores que fugiram ao meu controle.
Inúmeros problemas pessoais, inclusive de saúde, tiraram-me de circulação por
anos seguidos. Compromissos e projetos mais urgentes também me ocuparam
integralmente. Foram anos pesquisando e escrevendo sobre outros assuntos até que
dissesse a mim mesmo que conseguiria fazer o que deveria sobre esse tema. Mesmo
assim, ainda antes de ter concluído a referida tese, jamais me neguei a enviar
informações a respeito aos pesquisadores sérios que me têm
solicitado.
A maior
preocupação, porém, não era com o desconforto de reviver episódios pouco
agradáveis da história de nosso país e da Ufologia Brasileira, remexendo suas
piores memórias. Mas o desafio de encontrar um tom apropriado para abordar o
caso, sem ferir suscetibilidades ou instar conflitos desnecessários, ainda que
em certo grau isso fosse absolutamente inevitável. Tampouco me faltaram vontade
e coragem para tanto, ainda que sob a ameaça de retaliações em forma de ataques
via imprensa ufológica. O que determinou meu silêncio foi, principalmente, a
intimidação velada que sofri dos detentores do poder econômico, que me acenavam
com infaustos processos judiciais, e o pedido de Raul Félix, filho de Aladino,
para que aguardasse pacientemente o desfecho da ação que movia contra os
usurpadores do nome e da obra de seu pai. Assim o fiz.
A
verdade acima de tudo —
Nesse período, entretanto, confesso que não foram pequenas as decepções diante
da indiferença, da incompreensão e da veleidade renitente de alguns ufólogos e
pesquisadores ilustres em relação às descobertas que apresento neste box e no
artigo principal. Em compensação, também foram muitas as satisfações que tive,
mais tarde, com o apoio e a colaboração que passaram a prestar alguns
colaboradores, igualmente ilustres, entre os quais estão Mauso, Grossmann e
Bühler, já citados, e ainda Antônio Manoel Pinto, Lobo Câmara, Ari Nicácio
Moreira.
Embora a
mentira sobre a identidade de Dino Kraspedon já tenha se consagrado, temos que
fazer com que a verdade seja ouvida, principalmente para que sirva de estímulo e
força impulsionadora para todos aqueles que têm coragem e a necessária força de
vontade para prosseguir lutando por ela. Foi estimulado por tal propósito que
fiz intensa pesquisa sobre Aladino Félix, resultando nas descobertas aqui
apresentadas e no livro que acabo de lançar pela coleção Biblioteca UFO,
Contatados. Mover céus e terras para localizar documentos históricos,
testemunhas idôneas e informações fidedignas, que nos ajudassem a desvelar os
segredos que se ocultavam sob uma crosta de 30 anos de silêncio,
compensou.
Fontes:
O livro
sobre sobre Aladino Felix foi escrito pelo historiador Claudio Tsuyoshi Suenaga
que pesquisou os arquivos da ditadura em São Paulo.
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